Mudanças Climáticas e os preços dos alimentos
Depois de anos de recordes de produção agrícola e comida abundante (se não for para todos o problema não está na produção e sim na distribuição) estamos vislumbrando problemas adiante.
Somente neste ano tivemos quebras importantes nas culturas de cacau e azeite no mundo todo e, a nível local a cultura de arroz com as enchentes no RS.
No primeiro caso a produção de cacau na África (Costa do Marfim, Gana...) tem sido afetada diretamente e indiretamente pelas mudanças do clima, tanto através do aumento da temperatura que torna as condições de sobrevivência das plantas inviáveis bem como pelo fato de este aumento também propiciar o desenvolvimento de pragas que afetam a produtividade dos cacaueiros.
Diz-se que as áreas de plantio de Cacau estarão extintas até 2050.
Uma das tentativas para evitar este desastre será o desenvolvimento de cacau geneticamente modificado, mais resistente a altas temperaturas. Vai ter o mesmo gosto? Ou teremos chocolates baseados em outras matérias primas? Poderemos chamar de chocolate ou o mesmo se tornará um produto de nicho produzido em pequena escala para alguns poucos com maior poder aquisitivo?
No caso do azeite, a quebra de 20% na safra em terras espanholas (maior produtora do mundo) graças ao El Nino parece ser menos dramática que o problema do cacau, porém ainda assim fez com que o preço no Brasil subisse em alguns casos mais de 50%.
A pizza e a salada já não serão mais as mesmas com a utilização de óleo composto (azeite+soja), no entanto sendo uma cultura mais antiga que a do cacau, já deve ter passado por maiores vicissitudes ao longo do tempo e deve sobreviver.
O arroz e feijão, prato de resistência da culinária brasileira passou pelo risco de virar prato de luxo com a perda de até 1 Milhão de toneladas de arroz nas enchentes do RS, o que significa 5Kg a menos de arroz/ano/habitante no Brasil (um daqueles sacos grandes de supermercado).
Graças a uma iniciativa rápida do governo, arroz importado foi trazido emergencialmente e os preços deverão se manter no atual patamar ou ter pequena variação...
Tantos imprevistos em tão pouco tempo nos levam a uma única conclusão:
A segurança alimentar do mundo tem riscos maiores do que no passado.
O que acontecerá com os preços dos alimentos envolvidos? Sofrerão mudanças estruturais definitivas, fazendo com que nossos hábitos de consumo se modifiquem e nossa percepção de valor sobre estes produtos e seus derivados aumente?
Ou então encontraremos soluções tecnológicas para dirimir os problemas ou substituir de maneira adequada estes produtos cujo cultivo tornou-se inviável?
Independentemente das respostas a estas questões, o importante será continuarmos combatendo as causas destes fenômenos, pois pode ser que estejamos vendo literalmente apenas a ponta do Iceberg.